O comportamento no ambiente de trabalho sofreu grande impacto com o advento da pandemia do COVID-19. A aceleração da digitalização das empresas e a necessidade de adaptação rápida dos profissionais ao novo cenário mostrou toda a fragilidade no desenvolvimento das soft skills e, por consequência, os problemas das relações no trabalho.
Os modelos de trabalho remoto e híbrido, que ainda estão passando por adaptações em diversas empresas e mercados, revelaram que conhecimento técnico e tecnológico, embora muito importantes, não são o que mais impacta o sucesso de um negócio.
Falhas de comunicação, falta de autonomia, baixo nível de inteligência emocional, ou mais especificamente de empatia, ausência de comprometimento ou responsabilidade, microgerenciamento, entre tantos outros problemas, podem prejudicar, e muito, o crescimento de uma empresa e de seus profissionais.
E o impacto desses gaps de desenvolvimento é ainda maior quando nos referimos à liderança, que para fazer bem seu trabalho de gerir pessoas, deveria ter essas habilidades constantemente desenvolvidas, e ser um bom exemplo para suas equipes.
O que são as soft skills?
Soft skills são as habilidades comportamentais, que nos permitem nos relacionarmos melhor em quaisquer situações, inclusive nas mais desafiadoras e nas de conflito. São os elementos que nos tornam competentes em lidar com e gerir pessoas, reconhecendo que tanto nós, quanto os demais com quem trabalhamos, são seres humanos, a maior parte do tempo movidos por suas emoções mais do que pela razão.
De acordo com uma pesquisa da IBM, as soft skills são responsáveis pela capacidade de transformação, mudança e adaptabilidade dos profissionais ou empresas. Habilidades que alicerçam a capacidade de performar melhor no ambiente de trabalho e no mercado atual.
Por que as soft skills se tornaram tão importantes?
Por muitos anos, acreditou-se que o trabalho não era um ambiente onde as pessoas poderiam se expressar emocionalmente. O paradigma vigente era de que, no ambiente de trabalho, especialmente o corporativo, os seres humanos deveriam se comportar como máquinas, que repetem incessantemente as mesmas tarefas, cada vez com menos erros e mais eficiência.
O mais engraçado é que demonstrações de incômodo, insatisfação e frustrações eram reprimidas – e em muitos lugares ainda são -, mas nestes mesmos ambientes, a chefia costuma se expressar impulsivamente e se comunicar com raiva; valendo a norma dois pesos duas medidas. O colaborador precisa ser submisso e reprimir sua insatisfação ou frustração, mas o chefe pode despejar sua raiva na equipe. Para alguns, pode parecer óbvio quão perverso esta incoerência é para as relações e para o negócio, mas esta percepção está só começando a mudar.
Embora algumas organizações já viessem mudando sua cultura nas últimas revoluções industriais, precisou se desenrolar uma crise global como a pandemia para que se começasse a reconhecer que ser muito bom tecnicamente e trabalhar de forma mecânica ou automática (ignorando ou reprimindo como as pessoas se sentem no trabalho) só traria mais problemas do que benefícios para a produtividade e para o lucro.
Com a digitalização acelerada dos processos, com a grande adesão ao trabalho remoto e a mudança de comportamento de compra do consumidor, as empresas de tecnologia cresceram, bem como o número de pessoas interessadas e dedicadas a esta área profissional.
Como você bem sabe a tendência desses profissionais de TI é serem mais introspectivos e, portanto, aprendem rápido uma série de ferramentas técnicas novas, mas não necessariamente dedicam o mesmo tempo a treinar voluntariamente suas habilidades de relacionamento e comunicação.
Assim, até pouco tempo, os melhores tecnicamente foram sendo escolhidos para cargos de liderança, mas, como tinham gaps importantes de soft skills, acabaram não trazendo os resultados e o crescimento que as empresas esperavam. Ao contrário, o comportamento de muitos gerentes influenciou, e talvez muito, a dificuldade na retenção de talentos e prejudicou um crescimento sustentável.
Soft Skills X Hard Skills
É fundamental entender a principal diferença entre as soft skills e as hard skills. A primeira você aprende nas relações com outras pessoas, enquanto a segunda você pode aprender sozinho.
Hard skills
As hard skills são as habilidades técnicas ou digitais, conhecimentos necessários para você realizar qualquer atividade profissional. No entanto, ter habilidades técnicas (hard skills) muito bem desenvolvidas não é suficiente para ter sucesso profissional, ou pessoal. Afinal, a vida e o trabalho são feitos de relações.
Ter desenvolvidas hard skills como construir um produto ou um serviço incrível, ser habilidoso para falar outro idioma, fazer excelentes planilhas ou softwares, escrever muito bem ou ser um excelente orador não faz sentido se você não tiver alguém que queira seu serviço ou produto, alguém que entenda o que você diz em outra língua, alguém que vá usar as ferramentas que você criou…
É curioso imaginar que alguém não compre um produto/serviço porque não gosta de quem o criou ou do vendedor. Ou mesmo pensar que um colega não cumpre prazos, não colabora com seu trabalho, porque algum acontecimento passado ficou mal resolvido. Mas isso é muito mais comum do que podemos medir.
Uma pesquisa da Mckinsey revelou a importância das soft skills para a manutenção de talentos numa empresa. Os resultados mostraram que mais da metade dos profissionais que deixaram seus empregos nos últimos 6 meses não se sentiam valorizados pela organização (54%), por seu gerente (52%), ou não experimentaram um senso de pertencimento (51%). Isso comprova como o gap de soft skills da liderança pode ser nocivo para o crescimento de uma empresa, mostrando que a satisfação dos colaboradores têm mais impacto nos resultados do que seu conhecimento técnico.
Uma das conclusões do estudo da Mckinsey Building workforce skills at scale to thrive during—and after—the COVID-19 crisis, é que as empresas precisam desenvolver as habilidades de seus times de forma integrada. Dentre as competências prioritárias estão a capacidade de liderança e gerenciamento de pessoas, o pensamento crítico e tomada de decisões e a gestão de projetos.
Quais são as soft skills mais relevantes do momento atual?
A empresa do futuro é aquela na qual as relações de trabalho se tornarão o principal diferencial competitivo e farão pessoas e negócios prosperarem. E é por isso que as soft skills, ou habilidades comportamentais, vêm se tornando mais relevantes no ambiente de trabalho.
Dentre as 10 habilidades citadas pela 3a. edição do relatório Future of Jobs 2025 (lançado em 2020), do Fórum Econômico Mundial, a maioria é comportamental: pensamento analítico, inovação, aprendizagem, solução de problemas, criatividade, iniciativa, influência social, liderança, entre outras (veja o quadro a seguir).
No entanto, é importante destacar que dependendo da cultura organizacional ou do setor de atuação da empresa, algumas soft skills serão mais valorizadas, e outras menos, e algumas se tornaram um consenso para prosperar em qualquer negócio no cenário disruptivo atual, como a resiliência, a adaptabilidade e o pensamento estratégico. E essas englobam outras habilidades secundárias.
Como desenvolver as soft skills do profissional do futuro?
A maneira mais natural de desenvolver uma soft skill é através da experiência e do exemplo de pessoas que você respeita e admira. Mas nem sempre estamos próximos de pessoas que sejam bons exemplos de todas essas habilidades. Então, qual o melhor caminho para desenvolvê-las? Veja, a seguir, nossos insights sobre cada uma das principais habilidades comportamentais do futuro profissional.
Selecionamos as habilidades descritas pelo Fórum Econômico Mundial, porque elas são bastante abrangentes e acabam englobam muitas das soft skills citadas por diferentes profissionais e instituições que são autoridades no assunto.
Pensamento analítico e inovação
- Leia bons livros e artigos, bem como notícias que impactem sua área de atuação profissional.
- Tenha tempo para o ócio criativo e para refletir sobre os conteúdos que acessou.
- Exercite observar como as coisas funcionam, como as pessoas se comportam, sem necessariamente interagir com eles.
- Desafie-se a fazer as mesmas atividades do dia a dia de maneira diferente
- Ofereça ajuda para seus colegas de trabalho e aprenda com a perspectiva deles.
Aprendizagem ativa e estratégias de aprendizado
- Defina, com seu líder ou mentor, quais são seus objetivos no trabalho e o que você precisa aprender para alcançá-los.
- Aumente sua autopercepção para ser capaz de identificar os seus gaps de desenvolvimento e selecionar prioridades de aprendizagem.
- Identifique as maneiras através das quais você aprende melhor – sozinho ou em grupo, ao vivo ou por vídeo/áudio gravado, exercitando com cases de problemas a serem resolvidos, lendo, escrevendo, falando.
- Crie comunidades de aprendizagem com pessoas que tenham objetivos e interesses afins.
- Defina o que você vai estudar e até quando precisa ter adquirido aquele conhecimento.
- Crie metas desafiadoras mas alcançáveis, para se manter motivado.
Solução de problemas complexos
- Identifique com clareza – as raízes do problema, os sintomas que ele gerou e em que áreas, e qual impacto positivo você quer gerar, ao solucioná-lo.
- Analise o problema – colete informações conversando com as pessoas envolvidas, analisando o processo que foi realizado e os acontecimentos ou erros que o desencadearam.
- Liste as soluções possíveis – busque perspectivas diferentes sobre o mesmo problema, até conversando com pessoas de áreas totalmente diferentes da tua.
- Selecione a solução que tenha melhor impacto a curto e a longo prazo.
- Crie um plano para implementar a solução: liste as tarefas e atribua cada uma delas às pessoas competentes.
- Acompanhe a implementação – confira com as pessoas responsáveis, de maneira regular, como está a execução das tarefas da lista e se os resultados estão alinhados com as expectativas.
- Ajuste o que for necessário na implementação – identificando possíveis falhas no processo e corrigindo até que a solução tenha gerado o resultado esperado.
Análise e pensamento crítico
- Acesse conteúdos alinhados à sua área profissional que sejam de fontes confiáveis e tragam perspectivas diversas.
- Faça anotações sobre o que você lê, ouve ou assiste, como maneira de refletir sobre o que acessou.
- Converse com seus colegas de trabalho, de profissão, ou até mesmo de outras profissões, com o intuito de obter opiniões diferentes sobre os mesmos assuntos.
- Questione-se com frequência, evitando entrar no senso comum e tomar decisões no automático.
- Peça feedback para seus colegas, familiares e amigos, a fim de revisar os paradigmas que você já construiu.
Criatividade, originalidade e iniciativa
- Exercite uma mentalidade de crescimento, como descrito pela pesquisadora Carol Dweck, autora do livro Mindset – A nova psicologia para o sucesso.
- Esteja aberto a ouvir as novas ideias dos colegas, líderes e liderados, evitando opor resistência antes de analisar melhor.
- Reserve tempo do dia para estimular sua criatividade, com atividades lúdicas – ou seja, que não sejam compromisso com o trabalho, como desenhar, escrever, pintar, ouvir música, assistir a filmes e documentários, e até mesmo meditar.
- Busque soluções criativas para seus problemas – buscando referências fora da sua área de atuação profissional.
- Crie um comitê de amigos de diferentes áreas profissionais para consultar sempre que estiver buscando vencer um desafio criativo.
- Colabore com os colegas e amigos, a fim de aprender como eles criam ou solucionam seus problemas.
- Aceite os erros como oportunidades de aprendizado ao invés de ter medo de errar ao criar coisas novas.
- Ouse combinar conceitos, ideias e elementos diferentes de maneira inovadora.
- Compartilhe suas ideias – para que as outras pessoas possam te ajudar a enxergar o caminho para colocá-las em prática.
Liderança e influência social
- Exercite sua autopercepção interna e externa (Tasha Eurich) – entre outras táticas, treinando meditação e mindfulness e pedindo feedbacks aos liderados e colegas.
- Tenha clareza do seu propósito pessoal e do time, e converse com cada liderado para entender como seu propósito pessoal pode se alinhar à visão compartilhada.
- Estabeleça princípios claros no relacionamento com seus times, assim sua liderança estará presente mesmo quando você estiver ausente.
- Crie um plano de ação em colaboração com a equipe, pedindo aos liderados para trazerem ideias e soluções para alcançar os objetivos do grupo.
- Desenvolva suas habilidades interpessoais – aprendendo a comunicar-se com clareza e assertividade, sendo protagonista nos relacionamentos, exercitando sua empatia e escuta ativa, a fim de compreender melhor as necessidades de cada parte da relação e dando condições e recursos para que essas necessidades sejam atendidas.
- Crie conexões significativas, indo além de conversas técnicas sobre o trabalho e compartilhando experiências pessoas, histórias de como vivenciou algum desafio, de como o superou e aprendeu com ele, e ouça quando as pessoas tiverem suas histórias para contar.
- Seja exemplo daquilo que você espera de comportamento na sua equipe.
- Mantenha o seu nível de energia alto, para ter sempre entusiasmo e engajamento suficientes para inspirar os demais.
- Busque referências de líderes que admira.
Resiliência, tolerância ao stress e flexibilidade
- Tenha um propósito claro – entenda o que te move a fazer o que você faz diariamente.
- Cuide da saúde – mantendo uma alimentação saudável, qualidade do sono e atividades físicas regulares.
- Faça pausas no trabalho para lidar com a pressão, para tirar um cochilo, caminhar ou fazer qualquer outra atividade que sirva para recuperar sua energia e serenidade emocional.
- Mantenha uma atitude otimista mesmo diante dos desafios.
- Exercite respirações conscientes e profundas, para ensinar seu corpo a ativar o sistema nervoso autônomo parassimpático e produzir descontração física e emocional.
- Quando algo não sair como o programado, encontre soluções criativas, exercitando sua adaptabilidade.
- Compreenda que cada pessoa tem um ritmo e enfrenta desafios de maneira diferente, sendo gentil e compassivo.
- Exercite estar aberto às mudanças – treinando uma mentalidade de crescimento (Carol Dweck)
- Construa relacionamentos que dão suporte a momentos de fragilidade – com familiares, amigos e colegas.
- Pratique meditação, a fim de exercitar uma mente mais focada, a redução da reatividade a fatores estressores, e treinar a mente a adaptar-se com mais facilidade.
Raciocínio lógico, ideação e resolução de problemas
- Use alguns momentos de lazer para fazer jogos de lógica como xadrez, quebra-cabeças, cubo mágico, entre outros.
- Leia com regularidade sobre temas de âmbito geral que te permitam criar conexões novas e encontrar novas soluções para os mesmos problemas que encontra no seu dia a dia.
- Exercite sua percepção, observando as pessoas e o ambiente à sua volta e buscando encontrar padrões e divergências.
- Busque em áreas completamente diferentes da sua como problemas semelhantes foram solucionados.
- Exercite sua colaboração, a fim de aprender novas perspectivas e estimular novas combinações de ideias e conceitos.
- Organize seus insights em um único lugar, a fim de poder consultar seja na resolução de algum problema ou na hora de uma importante tomada de decisões.
Conclusão
Desenvolver habilidades comportamentais deixou de ser algo complementar para se tornar essencial para o alcance de realização pessoal e profissional.
Quais as soft skills a serem desenvolvidas não é o que realmente importa. Importa mesmo que o desenvolvimento delas aconteça de maneira personalizada de acordo com a jornada única de cada líder ou colaborador.
É fundamental que as habilidades comportamentais prioritárias sejam aquelas que vão atender às necessidades do momento de cada profissional e ajudá-lo a vencer os desafios que mais impactam no alcance dos objetivos da empresa.
De qualquer forma, as soft skills tendem a ser cada vez mais um diferencial competitivo para o líder e para a empresa do futuro, e a maneira eficiente de desenvolvê-las é unindo know-how, profissionais experientes em um acompanhamento individualizado e tecnologia para descomplicar o processo e mensurar o progresso de cada um.
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